quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A ovelha e o Pastor


Um passo e meu pé esquerdo estava no sólido ressalto do rochedo. Outro passo, e o ressalto afundou. Meu peso havia sido demasiado e fez brotar em meu peito o grande pavor do escalador que sabe que está para cair, e que não importa o quanto se debata e grite e ore, ele continuará a cair, dando cambalhotas e despencando violentamente montanha abaixo, para finalmente esborrachar-se em alguma escura brecha. A saliência se quebrou, e meu pé escoiceou freneticamente. Tombei, e o sol, o céu e a montanha giraram duas vezes ao meu redor. Fiquei em silêncio porque pensei que estivesse morta. Mas então meu peito foi colhido e comprimido por uma áspera forquilha de galhos, folhas bateram em meu rosto e depois que parei de tremer, percebi que estava presa num arbusto retorcido que crescera no penhasco, logo abaixo da saliência em que pisara. Virei a cabeça e olhei para baixo. Vi ao longe uma campina verdejante e um rio prateado. Ao redor e acima estava o céu azul. Gritei e gritei, e cada vez que soltava o fôlego sentia como se estivesse escorregando. E cada vez que eu enchia de ar os pulmões, meu peito doía. Gritei até que minha voz ficasse rouca, mas mesmo assim continuei rouquejando em caso de alguém ouvir. Mas as outras estavam longe de mim. No início da tarde eu havia perdido tempo e ficado para trás delas e então me desviei por uma trilha ascendente, deleitando-me com a luz do sol e seguindo o rasto de uma ágil cabra por um tempo, raramente olhando para baixo, sempre escalando. Então eu havia chegado àquela saliência estreita e dado um passo em falso. E agora, como não havia nada a fazer, exceto ver a campina escurecendo e o sol desaparecendo, eu os contemplei a fim de desviar a mente da dor em meu peito e do adormecimento da parte inferior do meu corpo. Uma vez tentei movimentar-me para ficar mais confortável, mas um assustador estalido entre os galhos me advertiu a não me mover outra vez. Olhei para baixo outra vez. Uma sombra cobria a campina abaixo. Imaginei ter visto alguma coisa se movendo junto ao rio. Seriam as outras que já estavam lá? Gritei para elas, juntando o que sobrara de minha voz e emitindo para o vale um grito dolorido após o outro. Mas como alguém poderia ouvir? –Não se mova-disse uma voz calma e familiar acima de mim.

Grandes jatos de sangue fluíram nas veias de meus ouvidos. Meu coração vibrou e eu me virei entre os galhos.

-Não se mova-disse a voz outra vez. Ouvi um barulho acima de mim e senti cascalhos frios e algumas pedras afiadas caindo em minha cabeça. –Não faça nenhum esforço. A voz estava bem perto agora. –Estou quase chegando aí. Vou erguê-la. Não faça nenhum esforço. Você compreende? Senti sua mão agarrar minha lã. Fui erguida, e minhas patas se apertaram contra o seu peito ao Ele me abraçar. Então, juntos choramos em meio à noite.

Maylan Schurch

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