sábado, 27 de fevereiro de 2010

O LIVRO EMPENHADO

Aos dezessete anos, W. P. Mackay deixou seu humilde lar na Escócia para estudar medicina em uma Universidade. Como recordação, sua mãe deu-lhe uma Bíblia com uma dedicatória e um texto bíblico.

O jovem conhecia a história da redenção e não podia se esquecer do ensino que havia recebido na sua meninice. Durante algum tempo, a recordação da fé radiante de sua querida mãe imunizou-o contra as tentações da vida universitária, mas, como nunca se tinha realmente convertido e consagrado sua vida a Deus, suas convicções enfraqueceram e ele começou a mergulhar-se no pecado.

Depois de formado, buscou a companhia de ateus, bêbados e depravados, e acabou sendo eleito presidente de um clube de ateus, cujos membros viviam dissolutamente, sem quaisquer restrições morais. A vida de pecado de Mackay quebrantou o coração da mãe, que continuou a orar pela salvação do filho até passar para o Senhor.

Mackay, entretanto, por ser inteligente, passou a fazer parte da equipe médica de um hospital. Ganhava muito dinheiro, mas esbanjava com bebidas e outros vícios. Certa ocasião, sob o efeito do álcool, empenhou por um copo de bebida a Bíblia que sua mãe lhe dera.

Tempos depois, Mackay estava de plantão no hospital quando lhe trouxeram um pedreiro, vítima de uma grave quebra de andaime. O doutor, ao tratar do ferido, ficou muito impressionado pela tranquilidade deste e sua radiante alegria. Não pôde impedir que a recordação de sua mãe cruzasse, fugaz, a sua memória. O ferido, embora sofrendo muito, esboçou um sorriso e perguntou:

- Que me diz, doutor?

- É minha opinião que sarará – respondeu o médico.

- Não, doutor, não é uma simples opinião que lhe peço – respondeu afavelmente o homem. E acrescentou: - A verdade não me assusta. Se morrer, sei que serei levado à presença de Jesus Cristo, pois Ele prometeu que o que a Ele for não será lançado fora. Faz um ano que a Ele recorri, aceitando-o como meu Salvador. Estou preparado para morrer. Mas quero que me diga a verdade: sararei ou não?

- Só lhe restam três horas de vida – foi a lacônica resposta do médico.

A calma expressão do paciente, reflexo da sua paz interior, não sofreu nenhuma alteração.

- Vou pedir-lhe um último favor, doutor – disse lentamente. – Em um dos meus bolsos encontrará um cheque. Queira enviá-lo à dona da casa onde me hospedo e diga-lhe que me mande o livro.

- Que livro? – perguntou Mackay.

- Oh! o Livro – respondeu o paciente. – Ela sabe.

O médico providenciou para que fosse satisfeito o desejo do doente e retirou-se. Entretanto, as palavras “a verdade não me assusta, estou preparado para morrer”, ressoavam ainda em seus ouvidos.

Mackay, insensível como era diante do sofrimento alheio, jamais demonstrava por um paciente um interesse mais que profissional. Não obstante, depois de atender os soutros enfermos, voltou ao quarto onde se encontrava o pedreiro.

- Morreu há pouco – disse-lhe a enfermeira.

- recebeu o livro? – perguntou o médico.

- Sim, trouxeram-lhe momentos antes de morrer.

- O que era? O seu talão de cheques, talvez?

- Não, não era um talão de cheques. Está debaixo do seu travesseiro.

O médico dirigiu-se à cama do pedreiro, levantou o travesseiro e retirou uma Bíblia. Abriu-a na primeira página e os seus olhos pousaram imediatamente na dedicatória escrita por sua piedosa mãe! Sentiu um nó na garganta. Ali estava a Bíblia que tinha empenhado!

Com o livro debaixo do braço, dirigiu-se ao seu gabinete particular. Ali, abriu-a e leu novamente as palavras que nela escrevera sua mãe. E pensar que esse livro, que ele jamais lera e que empenhara por uma bagatela, havia sido o instrumento que guiara uma alma aos pés do Salvador, que a iluminara nos seus derradeiros momentos e que viera a cair de novo em suas mãos!

Enquanto lia o precioso volume, notou que muitos versículos estavam sublinhados. Sua mãe os havia marcado para que despertasse a atenção do filho. E agora, depois de tantos anos estragados, começou a meditar nesses versículos.

Algumas horas se escoaram. Antes de abrir a porta de seu escritório para prosseguir nos seus deveres profissionais, Mackay ajoelhou-se e pediu perdão a Deus. E aquele homem, de coração insensível e vida dissoluta, converteu-se em um crente fervoroso e agradecido. Era nova criatura, pois a velha passara.

W. P. Mackay, o médico, abraçou posteriormente o ministério da Palavra. Pregou o evangelho, e foram muitos os que por seu intermédio aceitaram a Cristo. As orações feitas com tanto fervor e persistência pela sua mãe, durante a vida, receberam gloriosa resposta depois de sua morte. Quão fiel é o nosso Deus!

(Retirado do livro HÁ UMA LUZ NO CAMINHO, do pastor Abraão de Almeida, editora BETEL, páginas 58-61)

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